Sim, existem fatores adoecedores nas empresas. E são muito mais comuns de se ver do que a gente pensa. No geral, as pessoas têm pouca sensibilidade para perceber os alertas do adoecimento, e tem dificuldade para estruturar um ambiente de trabalho saudável.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como:
Estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência de enfermidades.
Mas o que há de importante nesta definição para as organizações? São dois pontos que fazem toda a diferença na saúde do trabalhador:
- A saúde não é inteiramente responsabilidade do indivíduo, é também da empresa pois há o fator social;
- Se não há colaboradores doentes, não quer dizer que estão bem, pois o completo bem-estar vai muito além.
E de fato, se uma pessoa não desfruta de bem-estar – e não está doente – duas coisas podem acontecer a partir daí: a primeira é a pessoa adoecer, a segunda é que seu bem-estar seja promovido. Sua saúde tenderá para algum desses opostos, e isso dependerá do ambiente de trabalho que a empresa tem.
Pensando nestes pontos elaborei uma lista com os fatores principais que causam adoecimento dos colaboradores nas organizações. Assim, espero ajudar as empresas a prevenir melhor estes acometimentos à saúde.
1. Chefes com má formação
Você há de concordar que relacionar-se com o chefe é inevitável . Tudo passa pelo supervisor e as pessoas se reportam a ele.
Um chefe que não tem habilidades sociais e de gestão de pessoas é um enorme transtorno para os colaboradores, e o relacionamento de caráter tóxico traz severos prejuízos à saúde mental de qualquer um. Chefes que ameaçam e assediam trabalhadores trazem enormes prejuízos para as empresas. Um chefe com má formação que não foi treinado para liderar pode causar diversos problemas como altas taxas de absenteísmo e rotatividade, despesas médicas, baixa produtividade e motivação dos colaboradores.
2. Não haver gestão da Cultura Organizacional
Tem muito de responsabilidade da alta gestão na cultura organizacional que se relaciona, portanto, ao item 1 acima. Mas a cultura é muito mais do que a postura da chefia.
Vários aspectos culturais estão relacionados ao adoecimento. Por exemplo, as empresas com cultura de delegar tarefas não relacionadas à função, de não praticar feedback, de faltar com transparência, de fofocas, de medo dos gestores, etc. Todas estas características além de prejudiciais para a produtividade, podem adoecer em médio e longo prazo os colaboradores.
Mas é possível administrar a cultura para prevenir isto e diversos tipos de adoecimento.
3. Pouco ou nenhum investimento no desenvolvimento de pessoal
Este fator já é bem conhecido como inimigo das empresas.
Evidentemente, as pessoas devem ser desenvolvidas para desenvolver as empresas. Além do comprometimento geral à empresa que o “não-treinamento” de pessoas traz, pode ser um fator que prejudica muito o bem-estar do trabalhador, e, consequentemente, sua saúde.
Não prover aprendizado e conhecimento para os colaboradores dominarem o que fazem gera muito estresse que acomete a saúde mental, e que repercute na saúde física. Além disso, não capacitá-los gera desmotivação que é outro aspecto que prejudica o ambiente de trabalho, os relacionamentos e, portanto, o bem-estar.
4. As pessoas não expressarem seus pensamentos e sentimentos
Nossos cérebros são órgãos que funcionam 24h por dia sem parar. Isto significa que durante todo o tempo, estamos elaborando pensamentos, opiniões e críticas sobre os acontecimentos da vida. Não é diferente com os acontecimentos do trabalho.
Tudo que acontece no ambiente de trabalho: seus colaboradores estarão pensando a respeito. Pensamentos e sentimentos mobilizam nossos corpos, e reprimir este curso natural ao ter uma cultura organizacional em que não é incentivado às pessoas se expressarem, é extremamente prejudicial à saúde mental.
O adoecimento de ordem psicossomática frequentemente ocorre por esta razão.
5. Carga excessiva de trabalho
Este fator é o mais fácil de aceitar como adoecedor, pois muita gente já viveu sobrecarga e sabe como é ruim para a saúde.
O grande problema disto é que os efeitos da sobrecarga à saúde não são sentidos imediatamente. Então uma pessoa pode pegar alguns trabalhos, os executar durante um tempo, mas só perceber os prejuízos quando eles já aconteceram e consolidaram-se.
Por isso é importante que sua empresa tenha protocolos sobre a delegação de tarefas e projetos para evitar a sobrecarga. É importante também orientar os colaboradores sobre isso, para não viverem sobrecarga na vida pessoal e trazerem os prejuízos disso para a empresa. Workshops são boas formas de fazer os colaboradores praticarem isso, pois são vivenciais e muito mais assimiláveis.
6. As pessoas não saberem falar “não”
Não é só saber falar “não” para trabalho extra.
É também saber falar “não” para outros colegas que distraem com trivialidades e solicitações constantes e ao chefe que exige sua participação ou ajuda em algo.
O colega que te distrai prejudica sua performance e pode te estressar, por isso é importante conversar com ele sobre isso e dizer “não” para ele entender os limites na prática. O mesmo vale para o chefe, que precisa entender que não é sempre que você pode escapulir das tarefas que ele mesmo delegou, pois elas precisam ser cumpridas.
Saber falar “não” é uma excelente vacina para o estresse e mal-estar no trabalho – fatores relacionados ao adoecimento.
7. Ineficiência nos feedbacks
Coloco ineficiência aqui, podendo caracterizar feedbacks ruins ou até mesmo a ausência deles.
Como seres humanos precisamos de sinais do ambiente para conseguir sobreviver e crescer. Além disso, precisamos refletir sobre eles para saber o que funciona e o que não funciona. A racionalidade do ser humano foi um dos fatores responsáveis pelo sucesso e desenvolvimento de nossa espécie.
Os feedbacks são sinais para o desenvolvimento dentro das empresas. Mas eles precisam ser dados da forma correta para estimularem a reflexão.
Com eles há investimento no desenvolvimento profissional dos colaboradores. E a ausência deles acarretará em um ambiente nocivo e estressante, no qual as pessoas não saberão se estão trabalhando bem ou não. Feedbacks podem manter a saúde ou podem causar adoecimento.
8. Inexistência de Programas de Qualidade de Vida e Bem-estar
Saúde não é sinônimo de ausência de doenças, segundo a OMS. Ausência de doenças é, então, um meio termo entre saúde e doença.
Se não há promoção de bem-estar físico, mental e social, não haverá saúde, deixado as pessoas mais vulneráveis. Isso abre caminho para as enfermidades.
Se você quer realmente ações preventivas de doenças ocupacionais, deve investir em programas de qualidade de vida e bem-estar no trabalho. Incentive o lazer e atividades físicas, mas principalmente tenha ações que ocorram no horário de trabalho, que é o lugar em que o adoecimento ocupacional acontece. Dessa forma, a prevenção é mais eficiente.
9. Clima organizacional adverso
Grosso modo, clima organizacional investiga um contínuo de dois opostos: 1) ambiente de trabalho harmonioso, receptivo e criativo; 2) ambiente de trabalho adverso, hostil e estressante. Consegue visualizar estes opostos?
As empresas têm seus ambientes de trabalho caracterizados em algum lugar no meio desses opostos, podendo estar mais próximo de um ou outro. Advinha em qual destes opostos é mais provável acontecer maior taxa de adoecimento? No oposto 2, é claro, ora.
É muito importante que as empresas realizem pesquisas de clima organizacional com periodicidade mínima de uma vez por ano. E é recomendado que uma consultoria externa realize o trabalho, pois os colaboradores tendem a falar mais a verdade para quem não é colega de trabalho.
O que fazer para combater o adoecimento no trabalho?
Em resumo, sua empresa precisa pensar em soluções criativas. Basicamente, todas elas envolverão algum tipo de mudança na cultura organizacional. O primeiro passo é diagnosticar os fatores que prejudicam a saúde no trabalho.