A ansiedade é um dos principais desafios para os profissionais da saúde mental na atualidade. Presenciei em diversos eventos acadêmico-científicos sobre sintomas e transtornos contemporâneos, que a ansiedade era uma das pautas mais discutidas pelos participantes.
O tema também deve ganhar relevância nas empresas, pelo fato de que as pessoas permanecem a maior parte da semana no trabalho. Isso implica que o ambiente de trabalho pode estar associado à gênese da ansiedade, mas, principalmente, que as empresas sofrem as consequências da ansiedade das pessoas.
São vários os prejuízos que a ansiedade dos colaboradores pode trazer às organizações, sendo assim, estas devem se ocupar do cuidado com a saúde mental deles. Em um de nossos artigos, explicamos porque as empresas ganham ao prestar ajuda às questões dos funcionários.
Com o objetivo de ajudar pessoas e empresas a identificar quando a ansiedade passa a prejudicar o ambiente de trabalho, listamos a seguir 9 sinais de que ela dominou a organização.
1 – Uso excessivo das redes sociais
Tipicamente, as pessoas muito ansiosas “vivem no futuro”. A ansiedade pode ser caracterizada por idealizar o futuro ou temer o que possa acontecer. É como se as pessoas não conseguissem apreciar o presente, e sentirem que não podem fazer a diferença no agora.
As redes sociais representam uma possibilidade de fuga da realidade que não é virtual. As pessoas tendem a se prender no mundo apresentado pela timeline do Facebook, em detrimento de confrontar o mundo concreto.
Para resolver este problema não adianta simplesmente proibir o acesso às redes sociais na sua empresa, pois as pessoas irão encontrar outra fonte de fuga ou que “satisfaça” as necessidades ansiosas.
No final deste texto, serão expostas soluções para o problema da ansiedade.
2 – Reuniões longas demais
As reuniões podem ser longas por diversas razões. É aceitável que haja uma reunião mais longa que o normal durante o mês. Mas se elas são sempre ou frequentemente longas, é um sintoma de algum problema.
E como a ansiedade afeta as reuniões? Pessoas ansiosas tendem a perder o foco. E não é aquele foco que todos param para rir de algum comentário ou contar um pequeno caso. O foco a que estou me referindo tem caráter subjetivo.
As discussões rendem mais que o necessário porque as pessoas não conseguem direcionar suas energias para as relações interpessoais do presente. Não articulam o objetivo de longo ou médio prazo, com as ações necessárias para realizá-los.
Não é porque não são competentes ou inteligentes. Mas estão estagnadas por alguma ansiedade que não permite que as reuniões sejam ágeis e resolutas.
3 – É difícil chegar a um consenso
Viver com ansiedade é muito difícil. Quem sofre com ela entende que não dá para simplesmente relaxar e esquecê-la. A ansiedade afeta o equilíbrio corporal como um todo – físico e mental.
Ela muda as necessidades das pessoas. O que não era essencial passa a ser, por exemplo, uma pessoa ansiosa pode começar a comer mais chocolate ou a ingerir mais bebidas alcoólicas. O equilíbrio neuroquímico se transforma e todo o cérebro sofre com isso.
Assim sendo, fica mais difícil chegar a um consenso com outras pessoas, parece que os acordos nunca satisfazem completamente. E mesmo com um aparente consenso – quando as pessoas concordam verbalmente com alguma decisão ou proposta – os ansiosos não conseguem aderir inteiramente a ele.
Portanto, há um consenso dissimulado, e as pessoas não se entregam completamente ao trabalho. Por conseguinte, tanto ela quanto empresa são prejudicadas pelo fator ansiedade.
4 – Os colaboradores preferem trabalhar isolados
O isolamento é um dos sintoma contemporâneos mais desafiadores. Relacionamentos interpessoais requerem que estejamos disponíveis para a troca que acontece nos diálogos, e isso requer que haja foco no presente.
As pessoas ansiosas não veem que focar no presente é algo a ser curtido, vivem demasiadamente no futuro que ainda não veio.
Isolar-se é uma forma de conseguirem permanecer na companhia deste futuro e se distanciar no presente.
Se você perceber que as pessoas da sua empresa preferem trabalhar isoladas e sozinhas – de forma exagerada –, é porque a ansiedade tomou conta.
5 – Baixíssima resistência à frustração
A aspiração da pessoa ansiosa é que o futuro imaginado se torne realidade – que não é o imaginário trágico. Mas focar demais no futuro é uma armadilha que leva as pessoas a fantasiar e a idealizar demais a vida, a tal ponto que parece quase real, e este ideal torna-se uma prisão.
Quando o futuro tão pretendido e adorado não se concretiza, vem a frustração. Veja bem: frustração é algo natural ao ser humano. A experiência de frustração pode ser uma ótima oportunidade de aprendizado.
Mas para a pessoa ansiosa a frustração é uma catástrofe. E isso as impede de tentar aprender com o que aconteceu de errado, e a seguir em frente para tentar de novo.
Se as pessoas da sua empresa se frustram facilmente e recorrentemente, veja se não vale a pena cuidar da ansiedade delas.
6 – As pessoas se distraem facilmente
A distração é mais uma marca da ansiedade. Quem é ansioso sabe como é viver com a procrastinação.
Mas atenção: as distrações não são falta de disposição ou vontade para trabalhar. Pelo contrário, as pessoas ansiosas sofrem pela ansiedade, mas também pela cobrança que têm consigo mesmas. Elas querem manter o foco de atenção, mas pela inevitável desconexão com o presente, o ambiente acaba tendo vários estímulos que distraem.
Distração pode não ser intencional! Não perca o potencial da sua equipe ao desconsiderar isso. Dê apoio à ansiedade das pessoas, será muito melhor para a sua empresa.
7 – Presenteísmo generalizado
Você sabe o que é presenteísmo? Ele é um fenômeno caracterizado pela presença física do colaborador, mas por alguma razão sua mente não está – portanto ele não produz.
A ansiedade pode se manifestar de muitas formas: As pessoas podem acabar sendo extremamente produtivas, o que é raro; ou podem não conseguir produzir efetivamente, por exemplo, por estarem preocupadas com alguma situação da vida pessoal e não conseguirem trabalhar como gostariam.
O presenteísmo, muitas vezes associado à falta de motivação dos colaboradores, pode ser na verdade causado pela ansiedade.
8 – As pessoas não respeitam as falas umas das outras
Seja atropelando a fala do colega, ou não absorvendo devidamente o que os outros têm para dizer.
Pessoas muito ansiosas não fazem isso por falta de habilidades sociais. Fazem isso pois a ansiedade as deixam tensas e desconectadas.
Perceba se as pessoas no seu trabalho têm a tendência a terminar as falas umas das outras ou a cortarem o discurso do colega para tomarem a fala. Isso pode ser um sinal de ansiedade no ambiente.
9 – A memória das pessoas anda falhando
Se você percebe que as pessoas parecem esquecer dos compromissos ou dos detalhes de um projeto, provavelmente é por alguma destas três causas (atuando juntas ou não):
- Estresse;
- Sobrecarga de trabalho;
- Ansiedade.
Ademais, mesmo estresse ou sobrecarga podem ser consequências ou causas da ansiedade. Portanto, atente-se para o esquecimento generalizado na sua empresa. Dê atenção à saúde mental dos colaboradores para não se preocupar com os resultados da empresa depois.
O preço a se pagar pela ansiedade nas empresas
Podemos elaborar uma longa lista dos prejuízos vindouros da ansiedade. É preciso esclarecer que a ansiedade é uma reação inata do ser humano, e, assim sendo, é um recurso de nosso organismo para lidar com certos tipos de situação. Mas é necessário ter atenção para saber quando ela se torna patológica e prejudicial para uma pessoa ou grupo.
Dentre os prejuízos da ansiedade para as empresas, é possível citar:
- Baixa produtividade;
- Alta rotatividade;
- Absenteísmo e falta de engajamento;
- Conflitos nas relações interpessoais;
- Gastos e prejuízos financeiros pela saúde acometida dos funcionários.
É importante ressaltar que todas estas consequências repercutem em outro grande prejuízo: agrava-se a qualidade do relacionamento com o seu cliente, repercutindo em queda nas vendas.
Como lidar com a ansiedade nas organizações
Sua empresa pode combater a ansiedade dos funcionários em duas frontes: pela transformação do ambiente de trabalho, e pelo suporte individual a cada colaborador. Dessa forma, as ações tomadas minimizam os efeitos que o ambiente (ou cultura organizacional) tem sobre a saúde mental das pessoas. E, pela outra fronte, enfrenta os efeitos mais particulares e subjetivos referentes a cada funcionário.
Procure conhecer o ambiente através da pesquisa de clima organizacional, ou por um estudo da cultura organizacional. Assim, você saberá exatamente o que precisa ser melhorado.
E para os colaboradores, ofereça atividades terapêuticas que os auxiliem a lidar com ansiedade, por exemplo, promova oficinas de arteterapia, biblioterapia ou cão-terapia. E outra ferramenta poderosa é oferecer suporte psicológico na sua própria empresa.
Ao identificar algum destes sinais, você já pode começar a considerar tomar alguma destas ações. Garanto que combater a ansiedade por estas duas frontes – individual e ambiental – solucionará qualquer problema que você tiver.